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terça-feira, 3 de abril de 2012

Perdoar é preciso!!

Muitas vezes quando li o trecho do evangelho de Mateus 18, 22, em que Jesus aconselha “você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes”, me perguntava como seria possível colocar este conselho em prática, afinal considerava certas situações, atitudes, muitos duras e traumatizantes, que deixavam marcas ao ponto de ser para mim imperdoáveis.
Na vida, aprendemos certas expressões, que se tornam influenciáveis consciente ou inconscientemente, na nossa forma de pensar e agir. Aquela famosa frase “Eu perdoo tudo menos isso”, como falei isso várias vezes em minha vida e imagino que em algum momento da sua você deve ter pronunciado esta frase, até num momento de raiva, sem pensar mesmo.
O período do tratamento se tornou de certa forma um remédio para esta autodefesa em relação ao ato de perdoar. Acredito que passei a ver o quanto a falta de perdão me afastou de pessoas, deixou mágoas, rancor, que se tornavam fantasmas dispostos a me assombrar quando menos esperava, enfim, entendi que o perdão era necessário para primeiro me sentir livre para prosseguir.
Aprendizado
Lembro que na infância, ocorreram momentos em que Deus me aperfeiçoou nesse sentido, os quais eu tive que encarar e buscar o melhor caminho no coração para chegar ao perdão. Esta fase da minha vida acredito foi a que eu mais exercitei este ato, afinal a criança pode não gostar de algo que fizeram com ela, mas a pureza e o amor em seu coração é tão grande que não há espaço para mágoas.
Este é um dos motivos pelo qual Jesus afirma que devemos ser como as crianças (Marcos 10,13-16), elas são mais sábias do que imaginamos. Um dia fomos crianças, um dia tivemos grande sabedoria, orientada pelo Espírito Santo, pelo nosso anjo da guarda, pela palavra de Deus e pela nossa família. 
Na adolescência, esse processo foi ficando cada vez desafiador, diante desta fase em que passamos por transformações, definição de personalidade e caráter. No meu caso, afirmo que muitas situações nesse período foram determinantes para a minha formação de pensamento e minhas atitudes sobre a vida. Tive um trauma que não vale a pena descrever agora, pois acredito que não vai trazer nenhum proveito para ninguém, que se tornou uma ferida que fora após longos anos cicatrizada.
Talvez cicatrizasse mais rápido se eu houvesse me disposto a perdoar, mas no fim das contas tentei apagar da minha mente como se apagasse com uma borracha, o que serviu durante um tempo.  Mas quando me deparava com outras pessoas passando uma situação semelhante, a lembrança vinha a tona, junto com a raiva, rancor, mágoa, revolta, o que me gerou um tempo tristeza (depressão). Na minha profissão, inconscientemente aquele fato, me tornou uma pessoa crítica e até as vezes tinha ar de justiceira, sentia que tinha que tomar uma atitude, mas não tomava.
Mas acredito hoje o que me faltava mesmo era coragem para encarar aquela situação de frente. Pois culpava a pessoa que me fez mal por aquela lembrança quando o que não enxergava era que eu tinha a opção de ser quem eu queria sem deixar o passado me abalar e encarar aquilo com mais um aperfeiçoamento para compreender o que era o perdão e assim poder praticá-lo. Foram longos anos para perdoar esta pessoa verdadeiramente. Deus permitiu que nos encontrássemos, e neste dia presenciei o arrependimento sincero desta pessoa, que me pediu perdão, e percebi naquele momento tão esperado em minha alma, que já o havia perdoado completamente. 
Quando achava que já havia superado a maior tribulação vivida, me deparei na minha juventude e mais precisamente, há dois anos (já me encontrava em tratamento), com uma situação bastante difícil e inadmissível para mim: a traição. Ouvia muitas histórias de pessoas que passaram por isso, mas não imaginei um dia passar por algo semelhante, quanto mais nesse período tão delicado que foi o tratamento de saúde pelo qual passo.
Me deparei com a maldade que existe no Mundo,  num momento em que buscava ser o ser humano mais forte possível para poder vencer o câncer (afinal mal maior que este não poderia me abalar, pensava).  A traição de um ser humano que confiamos e amamos poder ser tão dolorida quanto qualquer doença.
E dali, depois de tanto aprender com a palavra de Deus, me vi numa situação onde eu teria duas atitudes a tomar imediatamente: usar  aprendizado dado por Deus para chegar ao perdão ou ficar perdida na mágoa. Resolvi optar pela primeira, afinal aprendi com Deus que antes de amar qualquer pessoa, temos que nos amar primeiro, então era amor demais que havia em meu coração para deixar que todos os aprendizados que havia conquistado fossem por "água abaixo".
Parece até injusto Deus nos permitir passar por certas tribulações, afinal, Ele é o nosso pai e deveria nos proteger, pensava assim, mas passados muitos anos, fui permitindo que Ele abrisse a minha mente e o meu coração para entender que as tribulações fazem parte da vida, mas que Deus nos dá as ferramentas necessárias para superá-las, basta estarmos dispostos a usá-las.
Não foi um caminho fácil, mas entendi ali que era possível. Tomei como exemplo o filho do Homem, Jesus Cristo, que ao ser traído pelo beijo de um de seus amados discípulos, Judas, não demonstrou rancor, mas misericórdia e perdão com aquele homem cego pela ambição, egoísmo, covardia e coração fechado. Jesus nos ensinou enfim o valor do perdão. Se Ele perdoou uma traição, por que eu não pedoaria?
Superação
É incrível como o ser humano adquire uma capacidade, força para chegar a superação, mas muitas vezes preferimos o caminho mais fácil, nos paralisar permanentemente na posição de vítimas e nos fechar para o melhor caminho.
Creio que o primeiro passo para se perdoar verdadeiramente seja entender o quanto este ato pode ser o melhor remédio para alma, sim, pois primeiramente faz melhor pra quem está perdoando quanto para quem é perdoado. Pois o perdão proporciona a nossa libertação de muitos sentimentos negativos que se perpetuam em nosso interior à medida que não deixamos para trás aquele fato. Assim,deixo uma dica, se você se ama e quer o melhor para si, perdoe sempre (Mt 22, 39).
Outro passo é a compaixão. Este é um dos maiores ensinamento de Cristo, pois se Ele tem misericórdia de nós diante de tantos erros que cometemos durante a vida (Lc 23,34), deveríamos ter tal atitude de misericórdia com o outro, não é mesmo? (Mc 11, 25). Como afirma o seguinte evangelho: “Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra” ( Jo 8,7). Ele nos ensina além, que devemos amar até os inimigos (Mt 5, 43-48), ou seja, tratar bem, pois este ato inesperado gera duas atitudes para quem te fez mal, este afasta-se pois vê que não pode atingi-lo ou arrepende-se e muda verdadeiramente. Amar é atitude de cristão.
Para se chegar a este nível de compreensão, o essencial seria buscar orientação e assim uns podem estar pensando nesse momento em terapia (não desmerecendo esta que tem grande importância para se chegar ao auto conhecimento e buscar soluções construtivas para lidar com o dia-a-dia, a vida). Mas é essencial, posso dizer com convicção, a oração, a leitura da palavra de Deus. Alguns chamam a bíblia de guia, livro de auto-ajuda, enfim, não vi até hoje melhor conselheiro do que o evangelho. À medida que você conhece a sabedoria divina e busca como prática de vida, se compreende melhor o sentido de tudo, ao ponto de chegarmos a um nível de espiritualidade e de tornamos seres humanos cada vez melhores (Sb 7, 14).
Perdoar a si mesmo também foi outro grande aprendizado, pois Deus ensina que é necessário para poder mudar a sua trajetória, atitude e poder seguir em frente, com mais ânimo e livre de qualquer sentimento de culpa que possa nos paralisar no meio do caminho (Lc 5,20). Sem esquecer que podem vir as lembranças do passado, mas com o diferencial que hoje você ao encará-las, vê que foi forte com a ajuda de Deus e capaz de superá-las. O sentimento positivo da superação assume o lugar da culpa.
Outra dica é viver o presente e buscar daqui para frente fazer o melhor na sua vida, preenchendo a vida com lembranças positivas, o que resulta muitas vezes em compensar e confortar o nosso coração e alma. E principalmente, se policiar para não voltar a cometer o mesmo erro. 
Precisamos compreender também que o tempo é determinante para que o perdão seja cada vez mais concretizado em nosso coração, porém basta não demorarmos a dar o ponto de partida. (Ecl 3,1).


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